Crônica “Pau de Ferro” -  uma oração pela morte de um grande amigo

A informação está disponível no site da Prefeitura de Pau dos Ferros: “Até o começo do século XVII a região do atual município de Pau dos Ferros não passava de uma vasta área ainda inexplorada. Naquela época, na então província do Rio Grande do Norte, na chamada zona oeste, uma trilha foi feita por vaqueiros e viajantes para terem acesso até a província do Ceará. Ao longo dessa trilha, seguia um curso de água, que estava sempre cheio nos meses de janeiro a junho, época do inverno na região. Esse rio, mais tarde, ficou conhecido por Rio Apodi. Essa região ficava entre duas grandes serras, tornando assim fácil de fazer longas caminhadas e aproveitar as pastagens nessa grande planície. Às margens do Apodi, umas grandes árvores eram utilizadas pelos viajantes para alívio do calor e como ponto de atividade comercial, como vender e marcar gados”.

Localizada no interior do Estado do Rio Grande do Norte, na microrregião homônima e mesorregião do Oeste Potiguar, a 393 quilômetros de Natal, Pau dos Ferros é um pequeno município de aproximadamente 28 mil habitantes, e lá, entre esses 28 mil habitantes, vive a família de meu grande e estimado amigo Pau de Ferro.

Quando o conheci, estranhei. Também, com esse nome... Estava no “Nosso Bar”, nas imediações da Santa Teresinha. Tomava uma cachaça, quando ele chegou. Assumpção, o dono do bar, e por coincidência, meu avô, o encarou: “Vem um bocadinho aqui, Pau de Ferro, vem; deixa eu lhe apresentar meu neto”. Foi quando ele me explicou que o apelido era por causa de sua cidade natal, e não por outras razões. A partir daí, nos tornamos grandes amigos.

Pau de Ferro era pau pra toda obra. Se havia alguém que não recusava um trabalho, esse alguém era Pau de Ferro. E fosse o trabalho que fosse. Não era estudado, mas conseguira desenvolver certas habilidades que escapam ao conhecimento do fino homem das cidades. Pequenos serviços elétricos, hidráulicos, de construção. Fazia de tudo. E para serviço pesado, Pau de Ferro não podia faltar. Era comum vê-lo em mutirões pela vizinhança, subindo e descendo laje, com latas e latas de concreto nos ombros. O pagamento? Uma refeição simples, frutas, suco. E cachaça. Muita cachaça.

Esse era o seu ponto fraco. Sou daqueles que acredita que uma cachacinha só faz bem. Mas com moderação. Pau de Ferro bebia pra valer. Nos finais de semana, então, era fácil encontrá-lo cantando pelas ruelas, sem camisa, suando em bicas, bêbado que só vendo.

Pois nesta manhã, recebi a triste notícia da morte de meu querido amigo Pau de Ferro. Dizem as bocas do bairro que ele enfartou. Que estava enchendo laje lá pras bandas do Marlene Miranda e sentiu-se mal. Chamaram o resgate, mas ele já chegou morto ao hospital. Quanto a outras informações, vigora ainda o desencontro. Ninguém sabe onde o corpo vai ser velado, horário do enterro, se avisaram a família. Pelo que sei, por aqui, não havia ninguém. A família era toda de lá, de Pau dos Ferros.

Como sou avesso a essas cerimônias fúnebres, optei pela oração, poderosa oração. Aqui mesmo, meu amigo, direto do meu computador. Receba esta oração em forma de crônica, descanse em paz, e nada de bebidinha aí, hein?